sábado, 8 de maio de 2010

Capitulo 5 - Laço de sangue

- Não te vou contar tudo...porque eu própria não sei.
_ O que sabes então? - perguntei curiosa.
_ O que eu sei...não pode ser explicado por palavras.
_ Então como é que me contas??
_ Assim.- e ao dize.lo agarrou.me na mão e com a sua unha, comprida e preta, ligeiramente pontiaguada como uma garra, fez.me um corte grande e profundo.
_ Ei! Porque fizeste isso??
Mas ela nao me ligou. Continuou a cortar.me.
Apenas confiei nela naquele momento. Aguentei a dor do corte enquanto via o sangue a escorrer da minha pele.
E depois, ela apenas agarrou numa faca fina...e apertou com força na sua mão.


Eu apenas assistia horrorizada.
_ Da-me a tua mão.
E eu dei. Obedientemente.
_ Vou fazer um laço de sangue... será como se tivesses vivido tudo o que eu vivi...e eu tivesse vivido tudo o que tu viveste.
_ Como é que isso é possivel??
_ Bem...acredita em mim. é uma das coisas do " eu não sou normal"
_ eu confio. - disse sem pensar
_ Mas...tenho de te avisar. vai ser forte. Vamos ter uma ligaçao muito próxima...como se fossemos irmãs.
_ ok...
_ Dan...- ela utilizou a mesma alcunha que o Filipe me chamava
Olhei.a de um modo interrogativo.
_ Vais ficar chocada. Vais saber de tudo. E mesmo assim ficarás ligada a mim. Saberás como estou e onde estou. Não será fácil saires da minha rota depois de o saberes.
_ Saber o quê?
_ O perigo que represento.
_ Continuo a querer saber.
_ ok... - e dito isto, ela entrelaçou a mão dela na minha e os nossos cortes pressionaram.se um contra o outro, encaixando como se ela tivesse cortado a mesma forma.
- ohh..Jennifer..ohh...isso doi...
_ Tem calma...já vai passar...
A minha mão latejava, sentia o meu sangue a ferver...
_ Jennifer...- disse gemendo de dor
_ Está quase...aguenta só mais um bocadinho...- a Jennifer mordia o lábio e tinha os olhos fechados. Ela cortou.se mt mais a ela mesma que a mim...será que a dor dela era ainda maior?
_ AHHHH! - Ela gritou e como se tivesse levado um choque eléctrico, foi impulsionada para trás, batendo numa árvore grossa e ficando ali praticamente inconsciente deitada no chão, lágrimas a sairem dos seus olhos borrando a maquilhagem.

domingo, 4 de abril de 2010

Capitulo 4 - Conhecer.me para te conhecer

_ Então...qual é a tua história? - perguntou.me Jennifer enquanto caminhavamos pelo jardim da escola.
_ A minha história? - perguntei confusa.
_ Sim...disseste que me compreendias...de não quereres estar aqui. Contas.me a tua história?
_ E tu? Contas.me a tua a seguir?
_ Eu...eu...
_ Tudo bem eu compreendo. Mas sabes que terás de me contar um dia. Eu mereço saber.
_ Eu sei...
_ Bem...eu vivia no Algarve. Em Lagos.
_ Isso não é no Sul?
_ Sim. O Verão era óptimo. A praia estava sempre rodeada de pessoas, montes de Turistas, montes de calor, amigos...mas os meus pais separaram.se. Começaram a discutir cada vez mais frequentemente até que nenhum dos dois aguentou mais.
O meu pai ficou lá e a minha mãe ficou comigo. Vim para cá quando tinha apenas 9 anos. Vim contrariada. Queria ficar no Algarve com o meu pai, onde tinha todos os meus amigos, o calor, a praia... mas tinha que ficar aqui. Lisboa nã era nem um quarto do que o Algarve era para mim, muito ao contrário do que a minha mãe me tinha prometido.
_ E depois? Como ficaste quando vieste para cá?
_ Muito amuada.Quando vim para cá não queria falar com ninguém,não queria amigos nenhuns. Mas o Filipe estava decidido em ficar comigo, e abri.me com ele. Sobre tudo. E agora é o meu melhor amigo.
_ E eu?
_ Tu?
_ Sim...o que é que eu sou para ti?
_ Tu...neste momento és praticamente a minha melhor amiga. Por isso é que te quero conhecer...
_ Melhor...amiga?
_ Sim...melhor amiga...
_ Tu...tu também és a minha melhor amiga...eu...obrigada. Por quereres estar comigo...sabendo que sou perigosa.
_ Tu tens de me contar. Tudo.
_ Se tu souberes o que eu fiz...o que eu sou...não dá para entender. Nunca vais entender.
_ Eu NÃO te vou deixar Jennifer...Nunca te vou deixar...sejas o que sejas.
_ E se acontecer alguma coisa? E se eu não me conseguir controlar quando estou contigo? Quando tenho essas...crises...eu não consigo pensar por mim mesma. Não consigo saber o que estou a fazer. Posso fazer.te a vida num inferno sem saber que o faço. As minhas crises não têm um tempo exacto para acabar...posso não voltar a ser a mesma.
_ Tens de me EXPLICAR! TUDO! eu não vou deixar de ser tua amiga aconteça o que acontecer!
_ E se estiver prestes a matar.te? - perguntou mais séria do que alguma vez a vira.
_ A...a ma-matar-me? - gaguejei surpreendida.
Ela acenou firmemente com a cabeça atenta ás minhas reacções.
_ Estás assustada.- Afirmou.
_ Isso...pode acontecer? Tu eras...capaz?
_ Pode acontecer. Se eu não me controlar quando estiver chateada...se...se me chatear contigo...pode acontecer. Se estiver mesmo muito...acho que pode acontecer.
_ Já...aconteceu...antes?
_ Já. - afirmou.
_ Quem? - perguntei numa voz sufocada.
_ A minha mãe.
O Silêncio que houve durou cerca de 3 minutos.
Eu estava horrorizada e ela sabia-o.
Contudo, Jennifer deixou.me livre para pensar durante todo aquele tempo sem interromper.
Número 1 : Ela era de facto perigosa.
Número 2 : Ela pode matar.
Número 3 : Ela JÁ matou.
Número 4 : Ainda por cima foi a mãe! A pessoa que ela mais amou no mundo!
Número 5 : Porque é que queria continuar a ser amiga dela?
Depois de tudo, conclui que ela só me podia estar a contar isto por uma razão: Queria pôr.me em segurança dela.
_ Eu acho...que precisas MESMO de me contar tudo.
_ Sim. Precisas de conhecer a minha história.

Capitulo 3 - Conhecer.te

Parei á frente da mesa dela.
_ Olá - disse nervosa.
Ela continuou estática como se não me tivesse ouvido, ignorando.me.
Suspirei e deslizei para a cadeira que estava á frente dela. Sentia o perigo extremamente perto de mim tal como os olhares de todos os que estavam na cafetaria pregados nas minhas costas, assustados com a minha ousadia.
_ Chamo.me Daniela.
Continuou a ignorar.me.
_ ok...eu sei que é dificil recomeçar. Eu compreendo.te. Já passei por isso.
As minhas palavras pareceram despertar algo nela.
_ Não. Não, não passaste. Tu não sabes de nada do que eu passei.
_ Não. Talvez não saiba. Por isso podes contar para eu passar a saber?
_ Já disse que não gosto de falar sobre mim. Estavas lá quando o disse.
Admirei.me de ela ainda se lembrar de mim.
_ Eu quero ser tua amiga. Tudo o que me disseres eu não vou contar a ninguém. É esse o significado de ser amiga. Ter confiança.
_ Não preciso de amigas.
_ Então precisas de quê? Amigos?
_ Não. Não preciso de nenhum dos dois. Fico bem sozinha. Deixa de tentar arranjar.me amigos, não os quero para nada.
_ Não te vou deixar sozinha.
_ E porquê?
_ Porque ninguem gosta de estar sozinho. Eu quando cheguei a esta terra não queria estar aqui. Fui OBRIGADA. Os meus pais separaram.se e eu tive que vir viver com a minha mãe. Também queria estar sozinha. Não queria ter qualquer tipo de contacto com esta gente da terra que eu odiava. Mas o Filipe insistiu. Ele foi o meu primeiro amigo daqui e fez.me ver a vida cá de uma maneira diferente. Posso.te dizer que sou muito mais feliz desde que simplesmente o aceitei.
_ Porque é que estás a contar.me isso?
_ Porque quero que tenhas confiança em mim.
Ela calou.se. Examinou.me cuidadosamente com os seus olhos grandes e pretos procurando alguma falha no que eu dizia. Mas não encontrou nada. Cada palavra, cada traço do meu rosto irradiava sinceridade.
_ Tu não queres ser minha amiga - disse finalmente quando acabou de me examinar.
_ Quero sim. Quero mostrar a toda esta gente que tem os olhos pregados em mim que és uma boa pessoa. Que não têm razão para te temerem.
_ Talvez tenham. Não me conheces. Não é bom estares perto de mim. Devias afastar.te. Pareces ser uma boa pessoa. Não te quero magoar. Tal como não quero magoar o teu amigo...Filipe, não é? Parece que ficou chateado por não ter querido sair com ele.
Aquelas palavras congelaram.me. "Talvez tenham. Não me conheces. Não é bom estares perto de mim. Devias afastar.te. Pareces ser uma boa pessoa. Não te quero magoar". As palavras repetiram.se vezes sem conta na minha cabeça. Ela não era mesmo normal. Ela estava a admitir.me que era perigosa. A avisar.me. Ela estava a confiar em mim.
Mas quão má seria, se me avisava? Quão má ela seria, se não me queria magoar, a mim ou qualquer um que esteja na escola, sacrificando.se a estar constantemente sozinha?
_ Eu vou ajudar.te.
_ Não podes. Não há nada que possas fazer para me ajudar a não ser o que sou.
_ Mas o que és afinal??
_ Sou algo mau. Algo que não é como tu.
_ Então...diz.me. És...humana?
Ela apenas se calou fitando.me atentamente.
_ Eu preciso de saber!- insisti.
_ Não sei. Eu não sei o que sou.
Ao ouvi.la dizer isto, vi que dizia a verdade. Os seus olhos já grandes encontravam.se ainda mais abertos revelando medo. Ela sabia que não estava normal. Mas não sabia o que era e estava em pânico por não saber o verdadeiro perigo que ela significava para a Humanidade.
_ Então...iremos descobrir.
_ Não...não...é perigoso...não podes ficar junto a mim...não podes...não...podes... - e começou a chorar.
Levantei.me e sentei.me ao lado dela.
Abraçando.a, encostei.a contra mim e deixei.a chorar.
_ Não me importo...iremos descobrir juntas...tem calma...estou aqui... - e depois de tudo, depois de todo o medo de falar com ela, acabei a consola.la.
A partir de agora estariamos sempre juntas. Pelo menos agora sabia que ela ainda tinha coração para conseguir chorar.

Capitulo 2 - Decisão

_ Olha. A rapariga nova está outra vez sozinha. - disse para o Filipe.
_ Hm. Ai Sim? - respondeu.me com um interesse fingido.
_ Pára com isso! - reclamei dando.lhe uma palmada no braço - Não devias ficar assim. OK foi a unica rapariga que recusou sair contigo. E então? Sabes quantas barras é que eu já levei??
_ Não faço ideia, mas qualquer rapaz que não queira sair contigo é muito estupido, tu és linda.
_ Então nessa ideia, como tu és absolutamente lindo, ela é muito estupida porque não quer sair contigo certo?
_ Bem...não é tar a gabar.me mas é assim que vejo as coisas...
_ Tás a ser parvo.
_ Ai sim? Então se queres tanto assim que alguém socialize com ela, porque é que não começas tu??
_ Eu?
_ Sim tu. Sê amiga dela.
_ Eu...eu acho que talvez não seja muito boa ideia.
_ Porquê???
_ Porque...bem, porque ela me dá arrepios.
_ Bem, a mim também. Há qualquer coisa errada nela.
_ Ela pode me dar arrepios...e pode não parecer normal...mas é apenas a maneira de ela ser. É apenas diferente dos outros, mais nada.
_ Daniela...
_ Que é??
_ Acho que te estás enganada. Eu tenho MESMO um mau pressentimento em relação a ela. E é TÃOOO fria!!! Quando lhe dei um beijo hoje quase que parecia que não tinha sangue a circular.
_ Já estás a inventar. Só porque ela te deu uma barra vais começar a arranjar coisas para te convenceres que ela não era tão boa assim? Só falta dizeres que tem montes de borbulhas.
_ Não...isso não digo. A cara dela é bem macia e lisa...mas não tou a gozar, sério!!! Ela é super fria!
_...Achas que deva ir ter com ela? É dificil recomeçar. Eu lembro.me de quando cheguei aqui...só tu é que falavas comigo. Ela deve sentir.se tão sozinha...
_ Sinceramente? Má ideia. MUITO má ideia. Ela é perigosa. E parece gostar de tar sozinha. Não fala com ninguém.
_ Filipe!
_ Diz!
_ Ninguém gosta de tar sozinha. A Jennifer só parece sentir.se um pouco...deslocada. Ela pensa não pertencer a este lugar. Além disso, como é que alguém tão frágil como ela poderá, em algum mundo paralelo, ser perigosa???
_ Opah, Daniela, não acredito que não sentes alguma coisa má a irradiar dela!
_ Sim, mas não quer dizer que esteja certo acreditar nisso!
_ Ai não?? Bem isso também acontece quando vejo um leão, e acho que é uma boa ideia não me aproximar muito dele...achas que deva ir fazer festinhas ao leão?? Talvez o meu pressentimento esteja errado! Talvez esteja a discriminar o leão em relação aos outros animais não brincando com ele!
_ Sabes muito bem que é diferente.
_ Ya, tens razão. Ela é pior. Está à solta. Os leões estão em jaulas, pelo menos é mais seguro olhar para eles.
_ Ás vezes consegues ser mesmo parvo, sabias?
_ Estou só a dizer a verdade.
_ Vou ter com ela.- disse levantando.me.
_ Não! - interferiu o Filipe agarrando.me no braço.
_ Não me podes impedir.
_ É uma má ideia Dani!
_ Não sabes!
_ Eu sei que não te posso impedir...mas pensa nisso...só um bocado. Fica aqui.
_ Filipe...
_ Por favor!
_ Se eu não for agora, não tenho coragem para ir depois. Não a vou deixar sozinha. Vai ter uma amiga quer queira quer não.
_ Dani eu tou preocupado com essa ideia...sinto que algo mau vai acontecer se tu te relacionares com ela...não quero perder a minha melhor amiga, eu adoro.te!
_ Opahh não faças esses olhos!
_ Por favor Dan? - Disse utilizando a alcunha que me dava quando eramos ambos mais pequenos.
A memória fez.me rolar os olhos, escondendo os olhos brilhantes ao emocionarem.se com a lembrança dele.
Disse não com a cabeça para ele não perceber a minha voz trémula.
Suspirou.
_ Sempre foste tão teimosa...
Continuei sem responder.
_ ok. Mas...promete.me que tem cuidado. Não te quero perder linda.
_ ok. - disse com a voz trémula, deixando.o perceber que estava quase a chorar virando as costas logo a seguir.
_ Danie...- ficou ao meio da palavra ao aperceber.se e ao ver.me ir embora ao mesmo tempo.
Não ia voltar para trás. Se voltasse para ele, já não conseguia ir ter com a Jennifer. E se não for eu a primeira a ir ter com ela, quem é?
Vou mostrar que não há nada a temer em relação a esta rapariga. Aí já todos poderão relacionar.se com ela em segurança, sabendo que não havia nada de errado.
O pior era o que eu ainda não tinha pensado. E se ela não fosse mesmo normal? O que é que eu faria quando descobrisse que havia mesmo algo a temer em relação a ela? Fugir e afastar.me, ou tentar descobrir mais e ajudá.la a ficar normal??
Ao vê.la no outro lado do cafeitório, na mesa mais afastada de todos, sozinha a olhar para a janela de vidro que dava para o parque, vendo a chuva cair sem realmente ver nada, decidi.
Sendo como fosse, iria descobrir tudo. E sendo como fosse, iria ajudá.la.

Capitulo 1 - A Chegada a Lisboa

Os risos inundavam a pequena sala em que estávamos inseridos.
A turma posicionou.se á volta do Filipe enquanto ele contava anedotas.
_ Então, o preto chegou.se lá e disse assim...- ouvia.se a voz do Filipe a falar incansavelmente como se tivesse sempre mais uma coisa para dizer.
De facto, a fila da frente estava cheia de raparigas: Ele tinha mesmo tudo.
De cabelo castanho aloirado e olhos azuis, uma voz linda de cortar a respiração, uns dentes perfeitos brancos, um óptimo bom humor para fazer qualquer pessoa rir, era carinhoso e tocava guitarra, até o nome, Filipe, era associado para mim inconscientemente a uma pessoa bonita.
Todos nos divertiamos com o Filipe: é um óptimo amigo para todos. Aliás, ele é o meu melhor amigo.
A stora de português de vez em quando fazia um esgar de um sorriso, por vezes até parava de corrigir as composições porque não conseguia parar de rir.
Relembrando o que ela tinha dito " Podem fazer o que quizerem enquanto estamos à espera da nova aluna. Dêm.lhe as boas vindas e façam.na sentir em casa. Já sabem que é sempre dificil recomeçar num novo local.". Não sabiamos muito sobre ela: apenas que ela era de outro país. Os professores não nos davam nenhuns promenores. Talvez por também não saberem? Ela era misteriosa. Todos estavam ansiosos por a conhecerem e saberem mais sobre ela.
É claro que assim que a stora disse para fazermos o que quizermos as raparigas rodearam automáticamenteo Filipe a pedinchar para contar umas anedotas " tens tannnto jeitoo" como elas diziam.
Ele sorriu e disse " ok, ok, acalmem.se lá " naquela maneira descontraida que só ele conseguia ter.
E agora aqui estamos nós.
_ Agora preciso de ajuda para esta! - disse enquanto se ria de um modo misterioso e discreto - Quem é que me quer ajudar?
É obvio que houve uma gritaria de " eu, eu" assim que ele acabou.
Sorriu mais uma vez, desta vez um pouco menos. Ele estava desconfortável. Não gostava que todos quisessem se propor apenas para ele, não gostava de escolher ninguém em vez de outro " é injusto!" dizia.
Como se tivesse tido uma ideia brilhante, sorriu de orelha a orelha e olhou matreiramente para mim.
_ Oh oh...- sussurrei. Sabia que não vinha aí boa coisa.
_ Daniela, e que tal seres tu? - Pediu. Os seus olhos suplicavam.me que eu aceitasse.
Bem sabia que ele odiava que lhe metessem nestas situações...mas eu?? GOSH...
_ Hamm...ok... - cedi ao ver os olhinhos dele cada vez mais suplicantes e em pânico.
Assim que cheguei ao pé dele ele abraçou.me com força.
_ Obrigada, obrigada, obrigada, adoro.te - sussurrou.me ao ouvido.
_...de nada...- suspirei.
As raparigas semicerraram os olhos de inveja ao ve-lo abraçar.me. Mas todos sabiam que nós eramos melhores amigos, por isso era uma explicação perfeitamente obvia de ele ter.me escolhido.
_ Hahah meninas não se empurrem - disse numa voz sedutora e um riso perfeito, o que fez com que todas as raparigas ali presentes desatassem com risinhos ligeiramente histéricos.
De repente senti um arrepio. Como uma corrente de ar? Mas as janelas não estavam abertas.
Tudo foi sobreposto a um silêncio repentino. E então...
Tock. Tock. Tock.
No meio do silêncio, três toques secos e ritmados na porta fizeram.se ouvir ecoando pela sala inteira.
Todos pararam de respirar.
Tock. Tock. Tock.
Voltou a bater á porta exactamente no mesmo ritmo e som.
_ A-Abrem a porta deve ser a vossa colega - gaguejou a stora de Portugues quebrando o silêncio.
Todos continuaram estáticos.
TOCK. TOCK. TOCK.
A porta voltou a ressoar pela sala com mais força.
_ POR AMOR DE DEUS ABRAM A PORTA! - gritou a professora descontrolada.
Mas todos continuaram estáticos. Ninguém queria abrir a porta á desconhecida.
Até que Filipe mexeu.se.
_ Eu...eu vou.
Sempre admirei o Filipe. Que corajoso!
Lentamente, ele abriu a porta.
A porta rangeu ao abrir, o que fez todos encolherem.se. Quando finalmente a velha porta de madeira se abriu, Filipe ficou frente a frente com uma rapariga baixa e magra, aparentemente fraquinha dado pelos braços e pernas finas. Era muito branca: parecia uma bonequinha de porcelana.
As faces pálidas eram delicadas. Tinha uns olhos muito grandes, pretos como o carvão, e pestanas muito compridas. Toda a forma dos seus olhos estavam cuidadosamente delineados com um eyelyner preto muito escuro numa linha muito grossa que contrastava com a sua pele.
Ao vermos a aparencia aparentemente fragil da rapariga, envergonhamo.nos ao pensar que alguma vez ela poderia ser perigosa.
O Filipe, muito mais descansado agora, deu.lhe o melhor presente de boas vindas que alguém poderia receber.
Fez.lhe o seu melhor sorriso, disse olá naquela voz tão doce, e deu.lhe um beijo na cara.
Contudo, ela não reagiu, como se aquele rapaz perturbadoramente lindo fosse apenas um rapaz normal que lhe deu um beijo.
E então ouvimos a sua voz pela primeira vez. Era tão delicada quanto ela, doce até.
_ Olá.- disse com desprezo como se quizesse deixar a conversa por aí.
Mas o Filipe não desistiu.
_ Como te chamas linda?-disse ainda com um sorriso cativante nos lábios.
_ Jennifer.
_ Então sê bem vinda Jennifer.- disse com um sorriso ainda maior.
_ Obrigada.
_ Eu chamo.me Filipe, já agora. - continuou, tentando que ela se sentisse mais integrada, visto que não lhe tinha perguntado nada em relação ao seu nome.
_ Filipe.- disse Jennifer como se a experimentar a sensação do nome dele na sua boca.
_ Sim. Filipe. - disse devagar como se estivesse a falar para uma deficiente mental, ao que eu franzi o sobrolho para ele em desacordo. Ele olhou inocentemente para mim e fez um olhar de " que foi que eu fiz??" e virou.se novamente para a novata para dizer mais qualquer coisa.
_ Deves precisar de um guia para andar nesta cidade. Iria ter muito prazer em poder mostrar.te a cidade.
Oh. Meu. Deus. Ele ficou interessado nela. Está a convidar.lhe para sair.
_ Não Obrigada.
O QUÊEEEEE???????? ELA ACABOU DE RECUSAR O FILIPE?????
_ Ham...ham...ok...ham...tenho a certeza que te podes desenvencilhar muito bem sozinha...ham...ou talvez queiras outro guia?- via.se bem que o Filipe tinha apanhado um choque. Todos tinham. NINGUÉM recusava o Filipe. NUNCA.
_ Talvez a Daniela? Ela é bem bonita. E simpática. - continuou.
DESCULPAA????- pensei - AGORA OFERECES.ME A MIM'? (e ainda por cima está a insinuar que a rapariga não gosta de gajos, coitado do Filipe, tá mesmo em choque)
_ Não é preciso.
As suas respostas eram sempre curtas.
_ Ham...ok. - e voltou para o meu lado. Os olhos estavam pregados nela. Estava completamente apático. Aquela rapariga tinha mesmo tirado o Filipe da sua disposição normal.
Ela entrou. Passo ante Passo, devagar. Os seus olhos sem vida percorriam a sala e cada cara que se encontrava nela, memorizando.
Foi entrando na sala. Todos os que lá se encontravam olhavam.na da cabeça aos pés, perguntando.se quem é que ela era realmente.
_ Olá. Chamas.te Jennifer, não é verdade? - disse a professora com simpatia.
_ Sim.
_ Não nos queres falar um pouco sobre ti? - a professora teve imediatamente a atenção total da turma.
_ Não gosto muito de falar sobre mim.
_ Bem, já é um começo dizeres isso. Acho que haverá muitos meninos atrás de ti a divertirem.se a descobrir ham?
_ Hm.
_ E és pouco faladora. Um achado, hoje em dia!
_ Sim.
_ Pronto, esta aula não vamos fazer muita coisa. O Filipe estava a contar anedotas, vamos continuar! Tenho a certeza que vais gostar muito desta turma. És muito bem vinda, querida.
_ Obrigada.
Contudo, da maneira como todos olhavam para ela, indicava que isso não era verdade.

Introdução

Ainda era nova quando ela chegou.
Lembro.me de achar que ela era um bocado estranha: estava sempre sozinha, não falava com ninguém. Precisava de alguém para ser sua amiga.
Mais tarde, descobri que tentar socializar com ela tinha sido o erro da minha vida.
Porquê ser amiga dela? Agora que tinha descoberto toda a verdade, verdade essa que tinha esperado conhecer desde sempre, a verdade que se encontrava mais negra do que alguma vez imaginei, porquê espôr.me aos perigos de continuar á mesma a melhor amiga dela? Sabia que na hora de necessidade ela não se importaria se eu me importo com ela ou não. Sabia que ao minimo deslize que tivesse com ela estaria em perigo eminente de morte.
Mas mesmo assim não queria deixar.lhe. Talvez porque eu mesma nunca tinha tido uma amizade concreta, agora que dei um pouco de Humanidade a Jenny e ela era capaz de sentir uma ponta de amor por mim, não a conseguia deixar. E sei que se ela tiver um desses ataques novamente, eu não me vou conseguir proteger. Serei suicida? Não. Não sou. Apenas não vou perder a minha melhor amiga porque ela não é normal. Talvez nem mesmo humana. Continua a ser a pessoa com quem passei mais tempo e aventuras, a pessoa que me viu chorar e queria.me consolar.
A Jenny é bonita. Parece.se com qualquer outra rapariga. Faces pálidas, cabelo preto escorrido, olhos perturbantes quando se olham fixamente.
De fora parece apenas uma emo. Afinal há tantas! Qual o mal disso?
Mas as pessoas distanceiam.se dela sem conseguirem explicar. Sentem que há algo de errado irradiando dela. Uma onda de ódio pelo passado, reflexos inumanamente desenvolvidos, o sensor na cabeça de todas as pessoas que a rodeiam sentem o perigo vindo dela, o perigo que ela pode significar para a sua sobrevivência.
Eu também o sinto. Não sou exepção.
E assim que a minha vida for posta em risco novamente, poderei dizer adeus.
Não a ela...não era capaz de a matar, nem para salvar a minha vida...
Mas a minha. Sim, era capaz de morrer para continuar a ter a sua amizade.
E sei que o último pensamento que iria ter seria " Eu perdoo.te".